quinta-feira, 12 de março de 2009

Arte ou selvageria II

Recebi dois longos e-mails do amigo e jornalista Jackson Marcelo, dando conta de que o cachorro preso em uma galeria de arte recebeu comida durante sua “estadia” no local.
Um dos blogueiros citados diz ironicamente: “descansem, amigos dos animais: o cãozinho não morreu, foi sempre alimentado enquanto esteve na Galeria e só fugiu ao terceiro dia. Deve continuar doente e estar esfomeado, mas tornou-se invisível outra vez. Tudo está bem quando acaba bem, não é?”. Pois é, termina bem pra quem?
Em outro trecho, outro blogueiro justifica: “em 1966, durante a Guerra do Vietnã, Peter Brook estreou em Londres o espetáculo “US”. Nele um ator fazia um monólogo sobre o uso e efeitos do Napalm. Para sensibilizar a platéia, no final da atuação, o ator que tinha uma borboleta viva presa entre o polegar e o indicador, tirou do bolso um isqueiro e tacou fogo nas suas asas. Chocante, não? O ator teve que pedir desculpa diante do protesto e indignação da platéia. Mas antes de deixar a cena, o ator fez notar sua estranheza, já que o mesmo público que se indignava com a sorte da borboleta, até o momento, havia permanecido indiferentes aos vietnamitas queimados pelo Napalm. Na época ninguém ousou por em dúvida se Peter Brook era ou não artista”. Colocar fogo nas asas de uma borboleta não é arte.
Encerrando, outro trecho: “enquanto o próprio Habacuc não vem a público dar sua versão, nunca se ouvirá falar tanto nos personagens dessa noticia. Se dar o que falar e o que pensar era sua intenção, conseguiu em partes. Mesmo que o artista prossiga normalmente com seu trabalho, utilizando ou não objetos do cotidiano, sempre será lembrado por essa polêmica ou cairá no esquecimento quando outro artista for o mais novo alvo do sensacionalismo.Tudo isso poderia ter sido evitado se as partes envolvidas dessem maior atenção a sua assessoria de imprensa, evitando declarações infelizes. De certo a galeria Códice não imaginava que daria todo esse reboliço, mas não custava nada explicar ao público visitante que Natividad (o nome dado ao cachorro) receberia os devidos cuidados, afastando qualquer hipótese de maus tratos”.

Bem, como respondi ao amigo Jackson, não retiro minha assinatura da petição, como forma de protesto, mesmo porque a petição se referia a um evento de 2008.
Ainda bem que o cachorro recebeu comida, enquanto permaneceu preso sem acusação formalizada, não é mesmo? Mas continuo com a posição de que isto não é arte, assim como rodeio não é, nem nunca foi, esporte, assim como tourada não é espetáculo, assim como circo com animais não tem nada de arte. O ser humano tem que aprender a respeitar a vida e, principalmente a arte tem que refletir isso. O tal "artista arrojado” usa o cachorro sarnento para se autopromover, promover o seu nome e o seu ego e era isto que ele queria e conseguiu, mas a um preço que eu não pagaria, não por nada, apenas pelos meus princípios. Minha assinatura continuará lá, como jornalista, como poeta, como pai, como "amigo dos animais" e principalmente como "amigo da vida", que precisa ser respeitada, caso contrário, para mostrar que crianças são abandonadas nas ruas um "artista arrojado" vai colocar um menino de rua num cercadinho, numa galeria de arte qualquer e vai ganhar prêmios por isso. Arte não é isso. Arte é outra coisa.
A polêmica e a petição mostram o poder da internet e dos blogs.
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