Primavera de flores e de Revista Escrita. Embalada pela nova estação, a publicação da Associação Guatá reúne inteligência e sensibilidade em suas páginas
Palavra, olhos e a cultura em movimento através de mais uma publicação da Revista Escrita, editada pela Associação Guatá, Esta edição, a de número 05, que está encontrando seus leitores por meio de abrangente circulação, mantém o desafio editorial lançado desde os primeiros números, que é o de reunir a arte, os sentidos e a imaginação de autores que vivem de suas produções artísticas e de gente que apenas quer compartilhar aquilo que sente e pensa por meio de palavras e imagens.
Entre as preciosidades desta edição, está a exposição da fotografia do cineasta norte-americano Burton Holmes, nas Cataratas do Iguaçu, realizada em meados do ano de 1917, durante a sua expedição pela América do Sul. Esta raridade foi garimpada pelo faro fino de Claimar Granzotto, livreiro e produtor cultural de Foz do Iguaçu, dedicado a pesquisas que revelam um pouco mais da vida na fronteira.
No mais, a Revista Escrita estampa em suas páginas textos sensíveis e inteligentes que encontram imagens marcantes, mantendo o compromisso com seu arrojado e cuidadoso projeto gráfico.
Leitura para todos
Dos 2,5 mil exemplares da publicação, mil revistas são distribuídas gratuitamente entre estudantes da rede pública estadual de ensino, das instituições localizadas nas cidades do oeste paranaense, abrangidas pelo Núcleo Regional de Educação de Foz do Iguaçu. Ainda, escolas situadas na região da Grande Curitiba são beneficiadas com esta iniciativa, que é parte do Projeto Tirando de Letra, mantido pela Associação Guatá. Este programa, que visa a democratizar a leitura e a incentivar a produção literária entre os estudantes, tem o patrocínio da Itaipu Binacional e conta com o apoio institucional do Núcleo Regional de Educação.
Nesta edição, Escrita contou com a produção dos seguintes colaboradores:
PALAVRAS - Alexandre Palmar, Almandrade, Beth Vilasboas, Carlos Luz, Carol Miskalo, Fábia Tonin, Fernanda Laborde, Maria Izabel Leão, Mônica Venson, Silvio Campana, Vanessa Silva, Zé Beto Maciel e Wermerson Augusto.
OLHOS – Áurea Cunha, Burton Holmes, Cezar Koyama, Claimar Granzotto, Fernando Brás, João Albuquerque, Lalan, Maria Angélica Chiang, Maria Isabel Molina, Mirian Takahashi, Natália, Rogério Silva, Sabrina Bomdia, Scheila Thonsen, Silvio Campana e Walpi.
Déjà vu na fronteira
* Alexandre Palmar
Mesmo uma cidade de porte médio como Foz do Iguaçu reserva, para pelo menos um dos seus moradores, a impressão de o mundo ser bem menor do que ele aparenta ser. Às vezes, esta sensação desperta quando a província concede ao nativo um curioso apreço por outros nativos, semelhantes apenas pelo fato de habitarem a mesma comarca, mas completamente anônimos entre si.
É uma espécie de ligação entre seres que nada têm a ver em seus distintos cotidianos. É algo estranho, que poderia ser de fácil explicação se essa percepção aflorasse em pessoas com perfis ou hábitos semelhantes. Quem sabe moradores de um mesmo bairro, usuários de uma mesma linha de ônibus, de um mesmo banco, da padaria ou até de um elevador de condomínio.
O déjà vu (seria isso?) também poderia ser explicado por alguma religião, filosofia ou quem sabe por uma seita, cujos dogmas valorizam os antepassados, os espíritos, as almas gêmeas (e penadas), a reencarnação ou coisas afins. Mas não. Ele é misteriosamente comum, atingindo em cheio esse mortal sem perguntar sua raça, sexo ou clero.
É justamente a intromissão desse fenômeno que incomoda e tira noites de sono de uma mente cética. Seria fácil aceitá-la, caso o afeto recaísse sobre personagens “públicos” de Foz — como aquele cowboy sempre vestido com uma indumentária preta — ou sobre o garoto da faixa que insiste em avisar que Jesus está retornando.
Uma coisa é certa neste universo de incertezas. Bastava acatar ao impulso e dizer àquele desconhecido um simples “oi”. Mas é certo também que, ao tentar atender ao ímpeto, a mente vai refugar, porque ela tem a consciência da falta de um motivo palpável para a aproximação. Isso já ocorreu. E, quando aconteceu, restou ao homem a angústia de perder mais uma noite de sono tentando saber se outro iguaçuense teria vontade de compartilhar essa descrença.
*Alexandre Palmar é jornalista e membro do Megafone. Texto publicado na revista Escrita 1, da Guatá.
Outros textos em www.megafone.inf.br
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