segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Criação poética: tudo pode virar poesia

Autor de “poesia mínima” e “pingo de poesia” e vencedor do Premio Cataratas de Literatura em 2000 e 2007, o poeta Carlos Luz realizou hoje (4) uma oficina sobre criação poética na Feira Internacional do Livro.

Definir exatamente o que é poesia não é fácil e muitos autores, em vários livros, já escreveram sobre o assunto. Para o poeta Carlos Luz poesia é um modo de ver e sentir o mundo. Vencedor do Prêmio Cataratas de Literatura do ano passado, na categoria poesia local e acumulando o segundo lugar na categoria poesia nacional, com o poema “pulga, formiga e piolho ou U.S.S., 17, morreu...”, Luz abordou o tema “Criação Poética”, na Feira Internacional do Livro de Foz do Iguaçu.
Com dois livros publicados, “poesia mínima” e “pingo de poesia”, e mais dois a caminho, “o leão nunca foi rei” (infanto-juvenil) e “pequenos poemas temporais”, o poeta, que já foi presidente da Fundação Cultural de Foz do Iguaçu e atualmente trabalha na área da criança e adolescente em uma organização não-governamental da cidade, Luz acredita no engajamento da poesia. Para ele “a poesia não precisa ser apenas lírica, ao contrário, o poeta é um ser completo, como qualquer outro cidadão e, sendo assim, também deve participar politicamente da sociedade e expressar-se sobre os mais variados temas, o conteúdo não limita o que é ou não poesia, é a linguagem que torna um texto poético ou não”.

Tudo pode virar poesia
Além de conceituar a poesia e fazer alguns “exercícios poéticos”, durante a oficina, Luz mostrou aos participantes que “tudo pode virar poesia”, como o próprio poeta costuma dizer.
Para o autor, “a poesia pode tratar de tudo que diz respeito ao ser humano, já que ela expressa sentimentos e ideais, para mim, tudo pode virar poesia, desde que utilize a linguagem poética, então desde temas engajados socialmente, assim como temas líricos e sob as mais diversas formas, haicais, poesia mínima, sonetos, versos livres, com a utilização ou não de rimas, enfim, o tema e a forma é o poeta quem define, o que necessariamente um poema tem que ter é a poesia, ou seja, figuras de linguagem, jogos de palavras, metáforas, a linguagem é o diferencial, um texto em prosa pode ser poético, assim como um texto em verso pode não ter nada de poesia”. Luz defende a poesia como sendo capaz de provocar “catarse”, entendida aí como uma manifestação de emoções quando se lê um poema, e que estas manifestações possam servir para qualquer mudança de conceito, ou pelo menos para uma reflexão. “A poesia, como qualquer outra manifestação artística serve ao prazer, tanto de quem escreve, quanto para quem lê, mas além disso, a função da poesia é despertar, avivar, provocar, fazer aflorar emoções e reações”, afirmou o poeta.

Mercado poético
Carlos Luz também faz parte do Conselho de Editoração da Secretaria de Estado da Cultura (SEEC), que avalia quais obras o órgão estatal publicará ou não. Falando sobre a nova geração de poetas do Estado ele garante que “a poesia está em alta, poetas e leitores de poesia existem muitos, e de boa qualidade”.
O problema segundo Luz, não está na edição, mas sim na circulação de livros de poesia: “somente as grandes e médias editoras fazem os seus livros circularem, o livro independente raramente sai da cidade ou do Estado que o poeta reside, e as grandes editoras raramente publicam poetas novos, pois são empresas e este tipo livro não dá lucro, uma opção para a divulgação de poemas é a internet, através de sites e blogs”.
A qualidade é um outro fator importante que afeta o mercado, segundo o poeta. Enquanto conselheiro da SEEC ele diz que “muitas vezes chegam alguns trabalhos poéticos em que se vê claramente o sentido de mero desabafo do autor, todos devem exercitar a linguagem poética, é a linguagem mais sensível que o ser humano desenvolveu, mas este exercício não significa almejar o mercado editorial, que é um mercado como outro qualquer”. Para o autor praticar a poesia enquanto exercício de expressão “não significa que esteja pronta para serem editadas, é o mesmo que pintar, tocar, cantar, encenar por mero prazer, a poesia enquanto trabalho cotidiano tem uma porcentagem de inspiração, mas também tem uma outra que é técnica, o autor precisa conhecer a língua, a linguagem e as opções que elas oferecem, para daí ter a prática poética”.

Poemas

Mínimas

mínima realista
atéprincipedeacalanto
umdiaperdeoseuencanto

mínima geométrica
nuncagosteidegeometria
mastuasformasestudaria

mínima alinhavada
sealinhanalinhalida
seaninhanaminhavida

Haicais

vem a chuva e molha...
vem o vento e seca...
vem o tempo e passa...

criança brincando
em baixo de uma limeira
com seu tempo doce...

sonho descuidado
é levado pelo vento
nunca mais se acha...

Confira as imagens da Oficina Criação Poética:

2 comentários:

Thays Petters disse...

Que chique esse meu amigo!!!:D

Rafael Castellar das Neves disse...

Muito bom! Gostei muito, principalmente em relação à definição de poesias e o incentivo de publicação através de Blogs.

Na última semana, após conversas, pesquisas e incentivos deste tipo, resolvi criar meu Blog para divulgar um pouco do meu trabalho e, quem sabe até, receber críticas e sugestões. Até aqui, a sensação de ver meu trabalho disponível tem sido muito boa!

Aproveito para convidá-lo a conhecer meu Blog.

Parabéns e abraço,

Rafael