domingo, 9 de dezembro de 2007

Crônica de domingo

Cada um por si e salve-se quem puder...

sem foto e sem vídeo

Bem, todos os anos eu me incomodo com as apresentações de final de ano de minhas filhas. Foi assim com a mais velha e era assim com a mais nova. Este ano estava resolvido a não me incomodar e aceitar esta difícil tarefa de conviver com pais que acreditam que suas crias são as criaturas escolhidas para serem as pessoas mais importantes do universo. Também acredito nisso, mas penso que “criança tem luz própria e foi feita pra brilhar”, independente dos holofotes que pais e escolas os impõe todo final de ano.
Mas vamos aos fatos: ontem (8) fui à apresentação de final de ano de minha filha caçula, prometi não me incomodar e me senti bem melhor apenas observando a barbárie, afinal sempre fui muito criticado por levar a sério este tipo de evento.
Primeiro comentemos o horário. Jamais esperei que eventos como estes começassem no horário, afinal sempre há uma desculpa na ponta da língua para se justificar os atrasos. Ano passado houve um atraso demais de uma hora por que o “ator principal” da peça deu uma de noiva e, se queria chamar a atenção, conseguiu. Um pequeno atraso compartilhado obrigatoriamente por todos. Este ano até que começou cedo, cerca de meia hora depois, o que é praticamente no horário. Porém, haviam casais chegando as três da tarde com o filho, quando o horário marcado para as crianças era uma da tarde, para o início do evento as duas.
Tudo bem, sem críticas. Chegar uma hora e meia atrasado de bermuda e chinelo é normal, principalmente por que são estas pessoas que viverão mais, por que pensam: o mundo pode acabar, mas que acabe comigo perto de um barranco, por que eu quero mesmo é me escorar.
O horário é importante, pois chegar uma hora e meia depois do marcado e querer “sentar na janela”, aí já é demais certo?
Mas continuemos. Tudo correndo bem, conforme o protocolo: hino nacional; lições de moral; não às drogas; a educação que não humaniza, brutaliza; juramentos; promessas; risos, lágrimas e et cetera, et cetera.. Tudo perfeito até a hora da apresentação final. Ai! Poderíamos ter ido embora sem a apresentação final. Quem inventou a apresentação final? Lembram do ator principal? Pois é. Era da apresentação final. Mas apresentação de final de ano sem o encerramento, o desfecho do gran finale, não é apresentação de final de ano.
E eis que o auto de natal começou. Vejam bem era um auto de NATAL. Aí, como uma febre coletiva todos se voltaram para as suas câmaras fotográficas digitais e filmadoras para deixar gravado para toda a eternidade a apresentação dos anjinhos que tomavam conta do palco.
Lembram do casal de chinelos que chegou uma hora e meia depois do horário? Pois é, foram para frente do palco, sem querer saber se tinha mais gente para assistir o auto de natal. Com o casal foram outros inúmeros casais, todos ali, em pé, atrapalhando a visão de toda a platéia, para fotografarem e filmarem a belíssima apresentação de seus filhos no auto de natal.
Um jovem pai, penso que novo no ramo, cansou de pedir, solicitar, implorar para que os senhores e senhoras que estavam em pé na frente do palco se abaixassem. Nada de ser atendido.
Eu praticamente nem vi minha filha de anjinho, como atriz, por que uma senhora dona uma bunda que tomava praticamente todo o meu raio de visão deu o seu ar de presença durante toda a apresentação. Mas notem: não era uma bunda comum. Era uma bunda de dar pesadelos em qualquer um. E esta foi minha visão por quase 20 minutos, o tempo que durou o auto de natal.
A certa altura um senhora olhou para trás e começou a ter um ataque. Simplesmente entrou estado alfa. Gritou, esperneou, gesticulou. Pensei até que havia pisado em algum fio desencapado e estivesse levando um choque de alta tensão. Mas eram apenas as criancinhas do Jardim I entrando de Papai Noel. Esta senhora ficou tão ensandecida que pisou em outra criança para fotografar o seu filho que vinha atrás na fila.
Madame, a criancinha da frente também é gente!!!
O auto de natal corria solto no palco. Dê-lhe música natalina. Jesus nasceu. E nada do povo da frente se abaixar. Nem depois da apresentadora do evento pedir encarecidamente.
Depois da chuva de papel picado e do fim do auto de natal, sai. Sem ver quase nada de meu “anjinho” e atormentado por aquela enorme bunda. Mas como havia prometido, sem me incomodar.
Afinal quem se propõe a passar uma tarde de sábado junto à classe média consumista, egoísta, individualista e egocêntrica não pode se incomodar. Por experiências anteriores já sabia que a classe média vê o mundo como cada um por si e salve-se quem puder.
Tenho certeza que minha filha me viu na platéia, mesmo por um relance, atrás daquela enorme bunda. Eu também a vi por alguns instantes. Foi o suficiente para me orgulhar de minha menina que, mesmo sem fotos ou filmes, estará sempre em meu coração.

p.s.: pensei em colocar a foto da enorme bunda que me atormentou, mas ninguém merece... por isso o buraco negro em protesto.

2 comentários:

Maria Fernanda disse...

E eu que pensei que só em Portugal aconteciam situações tão caricatas como esta.
Bem, o mais importante aconteceu: a presença de um pai coruja que certamente fez a sua filhota muito feliz.
Bjos
MF

Anônimo disse...

rsrsrs...
sério....rss..eu nem ia comentar, mas não resisti!!!!Que revolta é essa meu amiigoo??rsrs...Tudo por nosso filhos, nem que tiver q enfrentar uma....na sua frente...rss. Lembra q tbm tive aqui neh? pois é, foi quase assim, mas nada parecido na minha frente, a não ser tbm os sem noção pra conseguir o melhor ângulo pra foto dos anjinhos...rss..quero dizer dos pirilampos, abelhinhas,joaninhas e pulguinhas....rs...mas valeu eu amei!!!rss..Bjão é uma ótima semana!!
Luce