Nem vizinhos e nem conflito
* Yassine Ahmad Hijazi
“Um vizinho distante é melhor que um inimigo próximo”. A frase de Noam Chomsky para tentar explicar o conflito entre judeus israelenses e árabe palestinos – um exercício bastante árido - parece perfeita para o momento vivido pelo Brasil durante a vista do chanceler Avigdor Lieberman ao país no meio da semana que terminou.
Israel é um vizinho distante, muito, mas muito distante no terreno geográfico. Lieberman chegou não apenas para falar de um vizinho distante, mas carregava e continua a desfilar com o rótulo de morar próximo de um inimigo. Aqui como diz Jean Baudrillard era o “outro do outro”, não só representava uma das terras em conflito, como queria platéia para falar do Iran.
Aqui encontrou senhores que sabem falar da guerra na teoria, mas nada sabem sobre a guerra: a das perdas. A única que farei referência é a humana, por ser insubstituível. No Brasil não há entre as equipes que defendem a pátria ninguém especializado para escrever a carta para a família do soldado morto, tarefa deferida só em países em guerra.
O diplomata veio!, veio mesmo!. Tinha duas missões: a primeira reconstruir um caminho que há 22 anos não era feito. Todos sabem que se deixarmos a casa fechada cinco dias encontraremos nela aspectos que se formam durante 120 horas de abandono, não importa o motivo.
No caso de representantes de Israel em terreno verde e amarelo essa ausência tem um tempo que pode ser ‘medido’ aqui por meio deste exemplo: peguemos uma criança que tenha nascido agora, alguém que de fato nos importemos. Por motivos não aqui discutidos voltemos a vê-la no dia da formatura.
Esse é o tempo de ausência entre Brasil e Israel no terreno da diplomacia em solo tropical. Durante esse tempo tanto aqui como lá, este espaço foi preenchido por outras visitas, outros interesses. Ninguém parou, o tempo não parou, o mundo também não.
Por isso, apesar de severas criticas, claro por meio da imprensa, o encontro não resultou em nada, nada, apenas aquelas expressões pouco importantes, ou deveras acidas de encontros que há muito não acontecem. O máximo é: Como você cresceu!, você está se formando em quê mesmo? Nada é muito sério, nada tem muito valor, afinal não houve afeto, não ouve olhar, não houve nada, apenas notícias de um sobre o outro.
Agora o que não é possível deixar de perdoar é a realidade do conflito entre Israel e Irã, continuem apenas superficiais ou de interesses com gosto de sangue. Como saber mais quantos anos serão necessários para dar um basta, antes que se transforme como aquelas tatuagens envelhecidas, incômodas, mas cuja retirada deixará mais cicatrize que mantê-las.
*Yassine Ahmad Hijazi é jornalista e acadêmico de Relações Internacionais.
Comentários: ecopress73@hotmail.com
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